Oração: Relatos de um Peregrino Russo

Muito se fala sobre oração, mas pouco se fala sobre a oração. Parece uma contradição, mas não é. Há muitos artigos, livros, textos, meditações sobre como orar, o que pedir, “7 passos para uma oração poderosa”, etc. Mas quase nada sobre a vida de oração verdadeira. Ficamos apenas em teorias e teologias sobre como é a oração e não vivenciamos essa prática.

Esse ano tive o prazer de ler o livro Relatos de um Peregrino Russo. Pouco se sabe sobre o autor, sua origem e datação. Apenas em 1865 o livro foi encontrado. Foi reeditado e publicado em 1884, mas no auge do socialismo e naturalismo essa obra, obviamente, não ficou conhecida. “Somente após 1920, quando o coração de certos emigrados russos sentiu a nostalgia da pátria, surgiu a necessidade de uma nova edição”. Estima-se que as vivências do Peregrino ocorreram entre 1856 e 1861, antes da escravatura e pouco depois da guerra da Criméia.

É uma obra incrível da qual tirarei lições para toda a vida. Um exemplo sobre como viver uma vida íntegra e de acordo com as Escrituras, sobre como ser apaixonado por Deus e pela comunhão com Ele  e sobre como a oração é importante para a vida do cristão.

“A fé do peregrino não é uma respeitosa emoção diante de mistérios de poesia, ela se alimenta de ensinamentos teológicos. Aos que se lhe dirigem, oferece conselhos técnicos e explicações da doutrina, e não exortações generosas e vagas. Conhecendo o homem à luz de Deus, ele conhece também seu lugar e seu papel no universo.” (Gauvain)

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Lady Hamilton Praying – George Romney

Na busca do entendimento do versículo de 1 Tessalonicenses 5:17 que diz:  “Orai sem cessar”. Com muita dificuldade sai a procura de quem possa explicar como é possível orar em todos os momentos. Muitos diziam e teorizavam sobre, mas a busca era sobre a mística dessa comunhão com o Senhor.

“Mas, o que é a oração e como aprender a rezar — a essas questões, entretanto, essenciais e fundamentais — é raro encontrar uma resposta nos pregadores de nosso tempo; pois são muito mais difíceis que todas as suas explicações e exigem, não um conhecimento escolástico, mas um conhecimento místico. E, coisa mais triste ainda, essa sabedoria elementar e vã conduz a medir a Deus com uma medida humana”

E no decorrer do relato encontra um mestre que o instrui na Oração de Jesus: “Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus, tem piedade de mim pecador!”.  Oração que ressalta a divindade de Jesus na primeira parte e a queda dos seres humanos na segunda parte.  E que o incentiva a orar incessantemente essa oração, de forma ao ouvir que as batidas do coração ele possa ouvir essa oração, que no respirar seja expressa ela.

“Senta-te no silêncio e na solidão; inclina a cabeça e fecha os olhos; respira mais suavemente, olha com tua imaginação ao interior de teu coração, recolhe tua inteligência, quer dizer, teu pensamento da mente ao coração. De vez em quando repita silenciosamente ou simplesmente em espírito: “Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim!” Esforça-te por afastar todo pensamento, seja paciente e repita este exercício sempre.”

O cristianismo perdeu seu caráter contemplativo e místico. As consequências disso é uma crença em sistemas teológicos e a perda da fé no Deus além das palavras, além da sabedoria humana; no Deus que é, que não é e que não-não é. Há uma frase do teólogo alemão Karl Rahner que diz: “o cristão do futuro, ou será místico ou não será cristão”.

Esse texto é apenas para incentivar a leitura dessa linda obra cristã. Poderia ficar aqui a noite toda transcrevendo partes e elogiando o livro, entretanto a experiência da leitura completa e da prática dos ensinamentos que o livro propõe é o que pode trazer transformação para as nossas vidas. E isso sim é válido.

Termino com uma frase do último relato do peregrino que diz: “A oração tem tanta força e poder que podemos dizer: “Reza e faze o que quiseres”, pois a oração te conduzirá ao ato correto e justo. Para agradar a Deus, basta o amor: “Ama e faze o que quiseres”, diz o bem-aventurado Agostinho, porque aquele que ama realmente, nada pode querer fazer que desagrade ao amado.”

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Der Monch am Meer – Caspar David Friedrich

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