Diversos relatos dos discursos de líderes e da experiência de saída da igreja Comunidade da Graça Sede (2013). Inspirado pela crítica da página Veritatis Catholicus à um texto meu sobre teologia feminista.
Querem me tirar de suas assembleias religiosas, das quais nem Deus mais frequenta. Querem me queimar em suas fogueiras sociais. Querem me excomungar.
Eles dizem para as pessoas não andarem comigo. Que tenho ideias erradas. Que sou pedra de tropeço. Querem me excomungar.
Querem me ver perdida. No pecado. Querem me ver caindo. Quebrando a cara. Querem me excomungar.
Não suportam a liberdade. Não suportam ouvir as boas novas. Dá comichão no ouvido. Não querem ouvir. Querem me excomungar.
Ironizam. Falam com puro cinismo. Pedem “perdão político”. Por eu não aguentar a falsidade, querem me excomungar.
Em nome do bom e velho cristianismo armam uma cilada, uma peça de teatro, para não gerar mais alarde. Não querem que a verdade seja dita! Que as coisas venham a luz. Abafam o caso, colocam de baixo do tapete. Por eu não concordar com toda essa encenação, querem me excomungar.
Dizem que expus os líderes. Que não aproveitei a boa vontade do “anjo da igreja” em ouvir as minhas palavras, porque isso é coisa rara. Dizem que tem o direito de saber o que aconteceu em sua “casa”. Querem me excomungar.
Proferem palavras de ódio. Que eu desonrei os céus e a terra por ir contra a “direção de um líder”. Quando não mais conseguem dominar, eles eliminam. Querem me excomungar.
Por não mais reproduzir o modelo, a produção mercadológica de cristãos, a “formação de discípulos” que não questionam. Por não mais transmitir a a lógica do mercado para a igreja. Querem me excomungar.
Querem que eu não vá à praia. Disseram não. Mas eu fui. Querem me excomungar.
Chamaram a liderança eclesiástica. Todos seus bispos, cardeais, pastores, padres, freis, diáconos, reverendos, apóstolos. Anunciaram de púlpito. A perseguição foi declarada: Querem me excomungar!
Amigos se tornaram inimigos. Inimigos se tornaram amigos. Já fui inimiga dos que hoje são meus amigos. Já apoiei excomungações alheias, sem o mínimo de empatia e amor. Mas por enxergar a verdade, hoje, com arrependimento das ações passadas: Querem me excomungar.
Me transformaram em uma máquina. E por me tornar humana: Querem me excomungar.
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Eles dizem:
“Não há nem clima para orar”
“Não adianta falar de valor com quem não tem princípio”
“Não tem coração regenerado”
“Você está vendo que eu estou bravo?”
“Obediência supre a falta de visão”
“Você é hostil, se faz de vítima, quando ouvem a sua versão quase choram!”
“Se você não fosse cristã eu seria seu amigo. Mas você não seria minha amiga. Jugo desigual, sabe?”
“Não vem teologizar aqui não!”
“Quando o homem se omite a mulher se expõe”
“Você é uma frustração para mim. Anos de investimento para nada”
“O que eu mais ouço você dizer é “não entendo”, “não concordo”
etc.etc.etc.
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Mas mal sabem eles que eu mesma me excomunguei.
Me excomunguei dessa religião apática e intolerante.
Dessa religião que dita quem é ou não é de Deus.
Me excomunguei dessa religiosidade que tem medo da liberdade e da vida.
Não quero comungar com os que se dizem donos de Deus e da Verdade.
Dos que usam de sua posição de liderança para controlar, subjugar e humilhar seus liderados.
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Temos que nos descatequizar dessa religiosidade sórdida, sádica, excludente e frívola. Descatequizar das palavras que nos aprisionam, violentam e matam.
Dessa religião que faz mais mal do que bem. Que dá falsas respostas e falsos sentidos.
Descatequizar os relacionamentos hierárquicos, doentios e manipuladores.
Me descatequizo para me auto-excomungar!
Ou melhor, como um amigo disse, me descatequizo para poder comungar novamente.
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