Hoje brinquei com um inseto. Não sei sua espécie, função ou qualquer outra informação. Mas uma coisa eu sei, nós brincamos. Começamos nossa relação meio tímida em meio a um café ao ar livre em São Paulo. Estava receosa em iniciar essa brincadeira, afinal, não sabia quem era esse meu novo companheiro. Apareceu sem mais nem menos no livro que estava lendo, me dando um susto, claro. O observei durante um longo tempo e depois deixei ele vir na minha mão, e de lá não quis mais sair. Subiu pelo meu braço, na minha blusa, pulava entre a mesa, a garrafa de água e minha mão. Ganhei sua confiança e ele a minha, até que em um certo momento o deixei livre para caminhar sobre mim até que o perdi de vista.
Aprendo mais sobre Deus com os insetos do que com os grandes livros sagrados. Essa relação com aquele recente amigo me lembrou que é assim que nos aproximamos de Deus. No início ainda temos nossos receios, crises, desconfianças. Após certo período deixamos ele se aproximar um pouco mais, uma pequena chama de confiança é gerada, e uma relação começa a se estabelecer. Posteriormente deixamos que ele seja livre para ir no mais profundo do nosso ser, e assim, da mesma forma que meu amigo inseto, o perdemos de vista. Perdemos de vista pois não mais vemos Deus fora de nós, mas vemos Deus habitando em nós, nos tornamos um com aquele que é a Verdade Última, não há mais dualidade.
Deus é um Deus que brinca. É o Logos Ludens. O Deus lúdico que ensina através da contação de histórias e de um relacionamento íntimo e único. Assim como as crianças se relacionam brincando, devemos entrar nessa roda de brincadeiras e diversão com o Mistério da Vida, com a Verdade Última, a qual chamamos de Deus.
A natureza nos ensina a espiritualidade diariamente, até mesmo em uma cidade como São Paulo, apenas temos que estar abertos a esse relacionamento com o Totalmente Outro, seja ele Deus ou um simples inseto.
“Deus é a simplicidade perfeita.” Meister Eckhart