Corpo: experiência mística-erótica

Conheci a Deus tomando uma xícara de chá. Senti teu aroma. Teu gosto. As nuances de suas ervas. O calor das tuas águas. Senti o néctar da doçura divina descendo pelo meu corpo. Trouxe alívio e acalento a minh’alma.

Abri o Sagrado Livro e ali também o conheci. Nas letras eróticas das suas poesias me deliciei com a harmonia de teus versos. Leio com meu corpo, suas palavras se escrevem na minha carne, saboreio cada letra e danço com o ritmo da leitura. Palavras que penetraram em mim, gozei de amores. Prazer do texto.

A mística se passa pela experiência erótica do corpo. Corpo é lugar de encontro, de mística. Faço do meu corpo altar, incenso, templo. O meu corpo são muitos. Muitos eu’s em mim habitam. Meu corpo é um texto que escrevo, não pode ser silenciado, letras de sangue e poesia, de dor e prazer, de lágrimas e riso.

Encontro o Divino em mim. Convido-o a entrar em minha morada e tomar uma xícara de chá. Estendo o tapete, acendo alguns incensos, coloco meu mantra preferido, e sentamos em silêncio por horas a fio. A conversa divina é repleta de silêncios – linguagem perfeita. A palavra perfeita é aquela que não é dita, mas sim sentida. Sinto no meu corpo a palavra perfeita.

Meus olhos transbordam e sinto no corpo o amor nupcial, nos tornamos um. Como dois corpos sendo desnudados na relação amorosa,  descobrindo um ao outro na relação íntima, profunda, única, que é a experiência mística com o Sagrado. Para sermos um é preciso da nudez-divino-humana.

Kali Kali Kali! Ensinai-me a dançar. Ensinai-me a usar meu corpo para me fundir ao Divino em êxtase. Krishna Krishna Krishna! Ensinai-me a ouvir o silencioso e doce toque de sua flauta em meio aos barulhos do mundo. Buda Buda Buda! Ensinai-me a sentir meu corpo no aqui e agora, pois é tudo o que temos. Jesus Jesus Jesus! Ensinai-me a ver o Divino no corpo do-a outro-a.

“É ele quem habita a minha essência mais íntima
É ele quem desperta o meu ser
com toques profundos e ocultos.

É ele quem lança o seu encanto em meus olhos
e dedilha, com alegria, as cordas do meu coração
em cadências variadas de dor e prazer.

É ele quem tece a teia desta ilusão [maya]
em matizes evanescentes de ouro e prata, de azul e verde,
deixando que seus pés ora apareçam entre as dobras
e que, ao seu toque, eu esqueça e mim mesmo.

Dias vêm e eras se vão,
e é sempre ele quem move meu coração
usando mil nomes e disfarces,
em muitos êxtases de alegria e tristeza.”
[Tagore, Gitanjali 72]

 

 

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