Quem tem o direito de fazer teologia?

Toda teologia é sexual, diria Marcella Althaus-Reid. Os homens-teólogos-pastores temem a sexualidade, temem o corpo. Como Rubem Alves diz: o corpo grita! E todos correm de medo, de pavor sobre o que o corpo é capaz de fazer com a teologia.

O corpo rasga o véu que separa nós do Divino. No corpo somos o Divino, penetramos e somos penetrados pela sensualidade de Deus, nos tornamos uma só carne, apalpamos as nádegas de Deus e gozamos o prazer místico da cristandade.

Pode o corpo falar? O corpo subalterno? O corpo que é sexualidade? O corpo que goza? Pode esse corpo ter o direito de fazer teologia? Ou teologia é essa coisa seca, sem lubrificação do afeto, do amor, do prazer?

Damos voltas e mais voltas e caímos no mesmo erro! Um cristianismo dito progressista que coloca os corpos e desejos no armário. Desculpe mesmo, Marcella, se seu trabalho parece ter sido em vão. Rubem Alves, também te peço desculpa, pois eles tem olhos mas não veem, ouvidos mas não escutam!

O corpo clama pela liberdade! Mas eles insistem que o corpo e as pluralidade da sexualidade não tem o “direito de influenciar a teologia”. O corpo morre pela liberdade! Mas eles insistem em reduzir o corpo a experiência biológica, negando a multiplicidade de experiências e possibilidades do corpo, discursos que testificam mortes de mulheres e homens trans – “deus fez homem e mulher”, a teologia é “muito clara ao dizer que há dois gêneros”, discursos que negam a vida plena de quem é gay, lésbica, bissexual, queer, não-binário, trans, intersexual . O corpo vive a liberdade! O corpo  que não será mais encarcerado por categorias teológicas não-libertárias. Nosso corpo transgride, se rebela e faz teologia sem calcinha, sem cueca, sem sutiã. Nosso corpo faz teologia estando nus perante o Divino Queer e honrando a corporeidade e a sexualidade!

O corpo é sexual, é sensual, deseja! Os corpos que são oprimidos pelo sistema capitalista também desejam!  Excluir a sexualidade, meu caro, está longe de poder levar o título de progressista. “Revolucionar” negando o corpo é mais uma maneira de se perpetuar a teologia da violência.  Dizer quem pode e quem não pode fazer teologia é uma atitude colonizadora, excludente, conservadora. Todos os corpos podem e devem mexer nessa teologia seca, sem lubrificante, que mata, exclui, abusa dos corpos marginalizados.

Deus não rejeita a obra de suas mãos
É inutil o batismo para o corpo
O esforço da doutrina para ungir-nos,
Não coma, não beba, mantenha os quadris imóveis,
Porque estes não são pecados do corpo.
A alma, sim, a ela batizai, crismai.
Escrevei para ela a imitação de Cristo.
O corpo não tem desvãos,
Só inocência e beleza,
Tanta que Deus imita
E quer casar com sua igreja
E declara que os peitos da sua amada
São como filhotes gêmeos de gazela.
É inútil o batismo para o corpo.
O que tem suas leis as cumprirá.
Os olhos verão a Deus
(Adélia Prado)

 

 

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2 pensamentos sobre “Quem tem o direito de fazer teologia?

  1. Pingback: Who has the right to theologize? – TheoCité

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