janelas abertas

nenhum pássaro que sai em peregrinação volta o mesmo.

nas muitas andanças que fiz em minha breve vida fui mudando. janelas abertas! o dia sem cortina, apenas com a luz do dia entrando. essa foi uma mudança. aprendi a viver a vida de janelas abertas, mesmo que a paisagem na frente da janela do meu quarto seja apenas outras janelas, que no caso, sempre estão fechadas. vi os vizinhos do outro prédio uma única vez, foi nessa quarentena. um pôr do sol de outono em são paulo! foi isso que fez uma das janelas se abrirem para fotografarem tal espetáculo de cores. eu olhei para esses dois jovens que lá estavam, tentando alguma forma de comunicação (dizem que sou conversadora). mas logo depois das fotos a janela foi fechada.

os dias escorrem, lentos e rápidos. o fluxo depende de como abrimos os olhos pela manhã. ou como os fechamos nas madrugadas. mas acho que os dias tem sido como aquela torneira emperrada: pingando constantemente. se apertar muito – ela abre. se não apertar – ela pinga. não há um fechamento pleno, a água sempre escorre, nós querendo ou não.

alguém tocando piano. um copo que se espatifa no chão. muito barulho de televisão. uma sirene. a vida da flor azul de novalis. a melancolia dos desencontros, das impossibilidades, da saudade ausente: o movimento brusco na areia movediça pode ser fatal.

a profusão de palavras dentro de mim é tanta que só consigo conversar na linguagem do silêncio. falo com as plantas assim como wislawa: “uma conversa entre nós é imperiosa e impossível./ urgente na vida apressada/ e adiada para nunca.”

a janela continua aberta e a torneira ainda está pingando.

 

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