“Pássaros, insetos, animais
Grama, árvores, flores
Me ensinem como sentir
Se eu ouvir que você anseia por mim, eu retornarei para você”
(Warabe Uta, Princess Kaguya)
O mundo se formou pelos sons, por grandes e pequenas explosões sonoras que deram vida a pequenas partículas, a formas variadas de seres.
A música do universo transforma a matéria, molda como um oleiro brinca com o barro, a voz que ressoa no trovão e na brisa, voz que canta o amor e a vida. Música que também é feita dos silêncios, das noites sem estrelas, do som inaudível, dos gemidos inexprimíveis.
O advento é a espera do esperançar, como diria Paulo Freire, é a esperança do se levantar, ir atrás, construir e não desistir. Esperamos a vinda daquele que nos ilumina com a luz da Vida, que nos convida a aprender a sentir as árvores, os pássaros, a cantar a canção da criação, que nos ensina que todas as coisas passam… Entretanto, sua vinda ressoa até hoje em nossos corações, palavras passadas de geração em geração, passadas pelo vento e flores. A beleza da vinda da criança que sorri e brinca é o brilho em meio a noite escura da alma.
O Evangelho do primeiro domingo do advento nos traz a dura realidade de turbulentos e nebulosos em que a divisão prevalece. A canção de Markéta Irglová sopra a poesia em nosso coração de que: “sem a Natureza não somos nada além de sementes da promessa e potentes, flutuando sem raízes, como antes, através dos espaços vastos e vazios, presos em algum lugar no meio”. O mergulho para dentro de si é o despertar do Espírito que nos chama para ir de encontro ao chão, ao solo preparado com o adubo do som da criação.
A Paz Inquieta, como diria Dom Pedro Casaldáliga, é o conforto que o Evangelho de Marco nos traz: a palavra do Amor é a eternidade se costurando na vida cotidiana.
“Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.” Marcos 13:31
Nessa primeira luz que se acende no dia 29 de novembro de 2020 possamos esperançar o verão que vem (Mc 13:28), atendendo o chamado divino à união da semente com o solo, da reconciliação interior e exterior, com a reconexão à natureza. Que primeira chama seja o despertar para o entendimento que nós somos um, não há divisão, não há dualidade. A palavra, a música que ressoa em nosso coração, que anseia o Eterno, está em nós e nós estamos nessa eternidade de sons, cores e texturas, assim como o riacho e o gelo são um, unidos em diferentes estados. Que o som da ternura e da construção de dias melhoras preencha os silêncios experienciamos em 2020.