“A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram. A verdade brotará da terra, e a justiça olhará desde os céus. Também o Senhor dará o que é bom, e a nossa terra dará o seu fruto. A justiça irá adiante dele, e nos porá no caminho das suas pisadas.” Salmos 85:10-13
No deserto uma voz clama. O anúncio daquele que vem. A preparação do caminho daquele que vem com o batismo do Espírito, que vivifica o vale de ossos secos e nos humaniza a partir de sua vida. O segundo domingo do advento é o cultivo da paz no solo do nosso ser, da paz que é conectada com a terra, com as águas, uma paz das plantas que brotam no chão, das abelhas que polinizam nossos tomatinhos do jardim.
A chama da segunda vela acendida hoje é a lembrança que a paz de Jesus não é a passividade. Mas uma paz da construção constante de um mundo digno para todos e todas. A paz que Jesus nos convida é aquela que se movimenta contra todas as injustiças, contra todas as vidas tiradas pela violência do Estado, pela violência do racismo, uma paz que não se silencia frente ao feminicídio e a LGBTI+fobia, e que se preocupa com a terra. Paz que é semeada com lágrimas, inquietude e ação.
O movimento da paz é a resistência do individualismo. São os beijos e enlaces que damos aos nossos amores, amigxs, família, natureza, em nós mesmos. Os beijos e enlaces da paz com nosso próprio ser, que por muitas vezes se divide e entra em guerra consigo mesmo, não permitindo sentir que o outro, que a natureza, que a ínfima formiguinha, que por vezes, nos pica, que todos e todas somos um. Interligados na teia infinita da vida, quando um ser sofre, todos nós padecemos.
Beijos de amor. Beijos de amizade. Beijos de paz. Beijos eróticos. Beijos molhados. Beijos das bruxas. Beijos que é a união, que é a paz, que é a justiça e anunciação de dias melhores. Beijos que fazem brotar em nosso coração sentimentos nunca experimentados, cumplicidades únicas, frutos de amor e carinho.
Que a oração nesse domingo seja para que nossos desertos sejam repletos de beijos de paz, “para que no deserto do nosso coração nós também possamos preparar um caminho pelo qual o teu Filho possa caminhar.” (Rev. Luiz Carlos Ramos) E que esse caminhar através de nossos corpos surjam novas flores e cheiros por onde passarmos.