Jardim dxs deusxs: terceiro domingo do Advento

“Porque, como a terra produz os seus renovos, e como o jardim faz brotar o que nele se semeia, assim o Senhor DEUS fará brotar a justiça e o louvor para todas as nações.” Isaías 61:11

Gosto da Bíblia. Suas metáforas são sempre recheadas de natureza, flores, árvores, riachos, sementes… Triste é a transformação da poesia em algo moralista, frio, sem imagens, sem cheiros e corpos. Matamos Deus quando o esvaziamos de sua Beleza e Poesia. Um Deus sem poiésis é um ídolo sem vida, sem criação, sem Graça.

Acender a terceira vela desse Advento não será uma coisa muito fácil. Como se alegrar com tantas violências, mortes e descasos nesse Brasil de 2020? Ousadx é aquelx que ora pedindo os olhos divinos, o coração do Sagrado, pois sentir a dor do mundo é um desafio em uma sociedade fria e sem compaixão. Mas buscar o Reino, esperar esperançando, é ter a fé naquilo que ainda não vemos, é construir e plainar os caminhos para os passos do Amado dançar, e aceitar o convite de entrar nessa roda.

A oração para esses tempos é:

“Senhor, restaura-nos, assim como enches o leito dos ribeiros no deserto. Aqueles que semeiam com lágrimas, com cantos de alegria colherão. Aquele que sai chorando enquanto lança a semente, voltará com cantos de alegria, trazendo os seus feixes.” Salmos 126:4-6

As oração regadas de lágrimas são sementes do jardim dxs deusxs. A lógica do Reino de Deus é o jardim, é uma agroecologia diversa, saudável, onde não há competição e sim criação de vida, potencialidades, sabores, aromas e formas, que alimenta nosso ser inteiro do arroz e flores. Alegrem-se! Diz a Palavra Viva. E lembrem-se:

>> cultivar a espiritualidade é como cuidar das plantas de nosso jardim. a rotina diária da rega e poda não basta. sempre um novo desafio aparece. não sabemos de onde surgem os ácaros, percevejos, pulgões, fungos, mas sabemos que eles, inevitavelmente, vêm. então, outros cuidados devem ser praticados: borrifar misturebas, adubar com humus de minhoca, assim por diante… chega uma hora que nossa espiritualidade se infesta por pragas, que muitas vezes nem percebemos, até que mexemos e remexemos em nós mesmos e tudo começa a fervilhar, pular, voar. não há receita, método, fórmula. cultivar é conhecer, experimentar o sol, o vento, a sombra, os alimentos…meister eckhart talvez entendia de plantas por orar: deus, livrai-me de ti. a espiritualidade do cultivo é romper sempre consigo mesmo, com as nossas certezas, com nosso pensar. borrifar misturebas quando preciso, cortar folhas doentes, adubar com o que parece lixo. e o cultivo é sempre em comunidade. assumir a impotência e pedir ajuda para os mais experientes. desapegar de si, de deus, da teologia, e experimentar de uma maneira livre. sentir do cheiro de lavanda pela manhã e beijar a aurora com os lábios de deus. as pragas sempre vêm, e sempre aprendemos a lidar com elas. <<

Alegrem-se, pois Ele vem… e nós vamos juntos. Construindo alegrias, resistindo com o sorriso e a ternura, com os afetos. A justiça, o amor, a Vida e a alegria brotam nesse Advento.

“Eu já visitei o jardim dos deuses mais de uma vez
Em busca do prazer e da paz,
Mas tudo que eu encontrei
Desapareceu depois que eu voltei
E eu nunca me esqueci do perfume do jardim
Mas não vou ficar triste na lembrança do que passou,
Vou encontrar o amor aqui mesmo
E se um dia eu voltar ao jardim dos deuses
Uma vez mais, não quero nem saber,
Nada me fará sair
De lá”

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