“Justiça e juízo são a base do teu trono; misericórdia e verdade irão adiante do teu rosto.” Salmos 89:14
[inspirado no documentário AmarElo do Emicida]
O cheiro de arruda invade meus pulmões toda manhã. Me banho com as ervas como as nossas ancestrais nos ensinam. Acendo um incenso com a poda da minha horta, como uma benzedeira que nos sopravam benções com a fumaça sagrada. O pingar do café na xícara anuncia mais um dia. O sol que anuncia a esperança do esperançar…
Mas a tristeza inunda com os números de mortos pela COVID-19, com a violência do Estado contra corpos negros, do feminícidio que aumenta em todo mundo, na LGBTIQfobia que causa dor e morte, da fome que leva vidas e desumaniza as pessoas…
Uma querida amiga me lembrou dessa fala de Eduardo Galeano que nos conta uma história sobre a utopia, quando mais caminhamos ela parece se distanciar de nós, em um horizonte longínquo, quase impossível de ser alcançado. E perguntam: para que serve a utopia? Por fim, respondem: serve para isso, para caminhar.
Caminhar entre o mundo, caminhar transformando com amor a realidade. Caminhar no ritmo de Jesus: olhar atento, caminhar presente, corpo pisando o mundo, pés de lótus que encontram na diversidade as múltiplas faces de Deus, sentindo cheiro de gente, abraçando o negligenciado. E caminhava apressado contra a intolerância, violência, contra o uso da religião para oprimir e subjugar os fiéis e contra toda injustiça!
Jesus caminha conosco na construção das utopias do Reino de Deus, nos oferecendo ramos de arruda, a Graça Divina, e a cada passo que damos. Na caminhada nossos joelhos se cansam e nossas mãos tornam-se tremulas, mas o sopro divino no alimenta a continuarmos, e o som vem do poeta vem: “Com o cheiro doce da arruda. Penso em Buda calmo. Tenso eu busco uma ajuda às vezes me vem o Salmo…” ou um Evangelho, quando nos lembramos das palavras de Jesus: “e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mtt 28:20).