POEMÍSTICA – pensamentos-imagens misturadas com orações que saem através de palavras da língua portuguesa
cultivar a espiritualidade é como cuidar das plantas de nosso jardim. a rotina diária da rega e poda não basta. sempre um novo desafio aparece. não sabemos de onde surgem os ácaros, percevejos, pulgões, fungos, mas sabemos que eles, inevitavelmente, vêm. então, outros cuidados devem ser praticados: borrifar misturebas, adubar com humus de minhoca, assim por diante… chega uma hora que nossa espiritualidade se infesta por pragas, que muitas vezes nem percebemos, até que mexemos e remexemos em nós mesmos e tudo começa a fervilhar, pular, voar. não há receita, método, fórmula. cultivar é conhecer, experimentar o sol, o vento, a sombra, os alimentos…meister eckhart talvez entendia de plantas por orar: deus, livrai-me de ti. a espiritualidade do cultivo é romper sempre consigo mesmo, com as nossas certezas, com nosso pensar. borrifar misturebas quando preciso, cortar folhas doentes, adubar com o que parece lixo. e o cultivo é sempre em comunidade. assumir a impotência e pedir ajuda para os mais experientes. desapegar de si, de deus, da teologia, e experimentar de uma maneira livre. sentir do cheiro de lavanda pela manhã e beijar a aurora com os lábios de deus. as pragas sempre vêm, e sempre aprendemos a lidar com elas.
o menino jesus sempre gostou de água. adorava brincar com água nos dias ensolarados. talvez por isso tenha escolhido o batismo como o início de sua trajetória pública. brincava com as transformações das águas e também de sair correndo por elas. as águas que nos acolhem no útero de nossas mães é nosso primeiro batismo. o segundo batismo vem quando derramamos as primeiras lágrimas. o terceiro batismo é a chuva que enche os rios e mata a nossa sede. temos vários batismos durante nossa existência. a água que nos acolhe é aquela que nos faz mudar. ver a luz da alvorada com corpos molhados. e nascer. nascer e ouvir: você é meu filho! você é minha filha! vocês são amados e amadas por mim. e a família também é batizada pelas emoções de uma nova vida. acho que deus derramou uma lágrima e por isso os céus se abriram e um outro batismo foi dado a jesus, aquele das águas profundas das lágrimas divinas. a voz ouvida veio de seu coração emanando alegria. outros batismos ainda viriam… jesus sempre levou a vida com a leveza e persistência das águas. inundava as pessoas com sua graça e sabedoria. e, assim como deus, se batizava com lágrimas a cada vez que uma nova flor brotava e que pássaros saiam de seus ovos em seus ninhos. novas vidas. batismo divino. e naquele dia, jesus gritou: vem, primo, vamos brincar com as águas logo!
ao som do piano
o chá frio
e as ausências..
as lágrimas dos cavalos abre fendas no solo. as bombas atômicas explodem brilhando como uma turquesa despedaçada ao sol. não é tarefa fácil ensinar a borboleta a voar no escuro. talvez, mas muito talvez, esteja escrito nos grandes livros empoeirados o segredo sobre o avesso das asas cintilantes. toda essa brincadeira transformou minhas memórias em finos espectros de fumaça. não, não é tarefa fácil ensinar a borboleta a voar no escuro. os passáros que voltam do exílio nunca são os mesmos. há um quê de tristeza em seu respirar e quando morrem os ventos se incubem do rito de passagem. as fendas que foram abertas custam a se fechar. foram lágrimas demais. explosões demais. os estilhaços se transformaram em um grande incêndio. alguns dizem que as queimadas fazem o solo ficar fértil, mas são terríveis para os pássaros, os ventos, as borboletas. o céu pranteia a dor com as árvores. como num mapa infinito as linhas estão soltas e caem na velocidade da luz, até formar uma poça de água fervente. hoje, quando acordei, a luz me cegou. é hora de voar.
Eu estou nas páginas dos livros que você não leu, nas linhas profundas de um aforismo. Você pode me encontrar também nas músicas que você preferiu não ouvir, no silêncio entre as melodias. Estou nos girassóis que esperam ansiosamente o sol e no aroma do mar ao amanhecer. Estou em tudo a sua volta, mas igualmente em nada, pois nada restou de nós.
a esperança é a luz de um dia que vem. talvez solstício de inverno esteja sendo prolongado. e o equinócio esteja desregulado, pendendo para algum dos hemisférios. mas em contra esperança cremos que nos a lua e o sol dançam enquanto o mar beija a areia. a fina luz que surge é tão delicada que rasga, com a precisão do vôo dos pássaros, os muros do não-amor. o véu de concreto que se despedaça perante ao sopro quente do que se desfalece em amor. cultive a esperança como se cultiva as águas que brotam entre os rochedos em refidim. não se desespere, depois dos três dias de escuridão o sol sempre nasce mais forte.
quando é chegada a hora
do olhar atento
do olhar para dentro
meus olhos pulam e fogem de mim
como um cachorro
em disparada para o meio da rua
olhos que morrem atropelados
por falta de coragem
quando converso com as flores, elas insistem em me dizer: ‘tudo é transitório.’ sempre temos essa mesma conversa. eu com minha ansiedades. e elas com sua sabedoria. uma vez me relembraram do texto de qohélet: ‘névoa de nadas / tudo névoa-nada.’ foi assim que cai no avesso do sono com a névoa pairando, dançando como maya no embalo da dilruba. ‘tudo névoa-nada’.
o mármore branco queima meus pés. mas quando te olho e te reverencio é meu coração que queima. quando sento e medito é meu corpo que queima. o sol é tua discípula. o fogo é a tua forma que mais me encanta. eu moraria em tua casa. eu sou a tua casa. no meu coração construo um templo de carne para a multiplicidade do seu ser. jamais me esquecerei dos meus pés queimados. da sua benção. da sua prasada. que a graça esteja sobre nós.
– birla mandir
deus brinca correndo no vento.
o vi essa tarde enquanto as roupas do varal estavam a secar.
as crianças estavam no quintal dançando e ele foi lá com elas.
fiquei observando essa cena: deus e tuas crianças
e as águas transbordaram –
saudades da minha criança.
foi-se embora como uma delicada flor
que é arrancada por um violento furacão.
o deus que é vento doce entrou
tomou um café comigo
e soprou calmaria –
mas há um buraco em meu ser
nada pode ser feito
senão tomar um café com deus
de vez em quando.
a estrela te beija. a paz é parida. os mundos se alinham para te ver. é a esperança nascida em dores. que a natureza te acolha, mulher. que a lua te fortaleça e as flores te perfumem. bem-aventurada tu, ó mulher.
epifania – oração da escuridão luminosa
as muitas luzes nos cegaram. não vemos mais a estrela. a escuridão é luminosamente gritante. deixa-nos desnorteados. sem saber por onde caminhar. sem ver a estrela. ó trevas, dai-nos a coragem de caminhar nessa luz cegante para encontrar a escuridão que brilha. as luzes falsas nos confundem. ó luzido, queremos apagar as luzes e lidar com essa escuridão que somos e teimamos em esconder. talvez assim possamos enxergar novamente a estrela. a estrela que brilha na escuridão. ó deus que és trevas e luz, queremos te ver.
acordei na brancura do dia. gosto de dias assim – o céu está branco, meu amor, assim como a neve que nunca vi. o vinho derramado no tapete branco é o rasgo que a borboleta faz quando voa entre as nuvens. meu amor, o rasgo também são as cartas escritas com tinta branca em papéis brancos que você nunca me deu. o silêncio é branco. é transparente. translúcido. lucidez que me enlouquece, pois há uma mancha de vinho no tapete branco – rasguei você em mim.
tenho, cada vez mais, abandonado as palavras. a linguagem não implica comunicação. podemos falar e não sermos compreendidos. não quero nem falar e nem ser compreendida. quero apenas descansar na minha cabana de madeira imaginária e tomar chá até cansar.
hoje eu quero uma teologia elástica, fugidia, molenga. que escorrega pelo ralo e se vai para bem longe. uma gosma colorida, líquida e oleosa que escorre. nada que grude. teologia que gruda me dá alergia – odeio sentir coceira. quero bater a teologia no liquidificador até ela ficar na consistência aquosa. mas ainda sim peneiraria para tirar a possível solidez dela. teologia-escorregadia. hoje é isso que quero. amanhã não sei – talvez eu me escorra pelo ralo também…
quem pinta a pimenta de vermelho? é o mesmo pintor daqueles tomates que compro com a dona conceição no mercadinho do lado de casa? uma hora verde, outra hora vermelho. não entendi o que aconteceu. acho que alguém anda pela vizinhança pintando os frutos e frutas de vermelho. ouvi dizer que até a bananeira da senhora júlia foi pintada – mas não sei se é boato. mas o que me encucou mesmo foi o caso da minha pimenta. aposto que foi algum engraçadinho querendo avermelhar nossa vizinhança. dizem que vermelho cura. pois então que as pimentas vermelhas curem o nosso mal de querer saber quem pinta a pimenta de vermelho.
não acredito em uma teologia que não nasça entre as ruas. entre as conversas, chás, andanças, movimento. o suor da testa das trabalhadoras e trabalhadores é quando Deus transborda no mundo: humilde em carne, osso, corpo. corpo que habita na cidade e no campo – e que clama por: um mundo melhor.
uma criança confessou à minha irmã: Deus brinca correndo no vento. é, ela percebeu o mistério que faz secar as roupas do varal – Deus passa correndo de lá pra cá e acaba esbarrando nas roupas, por sorte elas não caem no chão (embora já tenha visto diversas meias espalhadas por aqui – e sempre que recolho roupa falta uma meia e acabo ficando sem pares iguais). quero correr com esse vento, ir de lá pra cá e de cá pra lá na alegria de uma criança.
atravessamos e somos atravessados. fazer a travessia entre as margens é uma tarefa complicada, requer muitos cuidados. significa ir com cautela, mas destemido. na travessia tudo pode acontecer. tropeços, atropelamentos, acidentes. atravessar as margens é correr riscos. mas não atravessar é ficar preso apenas uma visão da calçada. pelo medo não atravessamos as margens. medo do que pode acontecer no caminho, do que podemos encontrar, de como vamos fazer a travessia de volta… atravessar a rua, as margens, as fronteiras é um processo transformador: não é possível voltar o mesmo. digo mais, às vezes queremos apenas andar no meio da rua, entre as margens. ou ficamos nessa nova rua descoberta . atravessamos e somos atravessados: é um risco…
passei a tarde à florinhar. dizem que a observação dos pássaros é passarinhar, penso eu, então, que observar as flores é florinhar. florinhei a tarde toda. conversei com as flores e elas me contaram segredos incríveis. lembrei do amigo Alberto Caeiro e do quanto ele me ensinou sobre amar as flores. contemplo as flores para poder, pelo menos um pouco, aprender a arte de viver. vamos florinhar?
mar, ague as poesias ressequidas do chão do meu ser
que minha morte seja tranquila:
quero morrer lendo poemas
sentada com meu chá
ser levada pelas letras
e simplesmente
ir
quero uma parede branca
com quadros em tons pastéis
meu corpo é o tecido do mundo. costurado por linhas de sentido. com diversos bordados em movimento. florido em cor.
minha caneca de chá foi quebrada. não fui eu. nem sei como e o porquê quebrou. ela tinha uma bicicleta desenhada nela. tão bonita. minha caneca preferida. as coisas quebram. racham. espatifam pelo chão. e o que resta senão cacos. li recentemente que há uma prática no japão que concerta cerâmicas quebradas. kintsukuro. vou levar minha caneca lá pro japão para ver se arrumam. e aproveito e vejo se tenho algum jeito também…
delírio nos campos labirínticos de girassóis imaginários. é tudo de um amarelo da cor das nuvens no pôr-do-sol. acho que nunca ouvi algo tão bonito como seus passos se perdendo dentro de mim. todos meus sonhos são assim – amarelos. e meus lábios amanhecem com gosto de jasmim
as estrelas da via láctea estão no seu olhar. não,não. há constelações. universos. multiversos. versos. dos mais belos poemas. das métricas mais bem ensaiadas. das rimas perfeitas. das metáforas mais profundas. mas ainda vejo estrelas. estrelas feitas palavras de um poema silencioso. poema que só é possível ser dito pelo seu olhar.
gosto do mistério. quando criança apenas lia livros sobre mistério. mistério do relógio na parede. mistério das aranhas verdes. mistério da coroa imperial. mistério no museu imperial. entre tantos outros que levavam o título mistério na capa. lia também livros de diversas mitologias. egípcia. grega. nórdica. o mistério sempre me cercou. por isso tropecei na teologia. penso eu que a teologia deveria ser a apreciação do mistério-impossível-de-desvendar. pensar nessa palavra meio estranha e torta, com tantos usos e desusos, e reduzir seus inúmeros significados é de um mal-gosto e desonestidade sem igual. o que significa deus? eu sei lá. se acredito em algum deus, é em um deus-mistério. deus dos místicos e místicas. da nuvem do não-saber. deus-vazio. deus-oco. deus que se esconde tão bem dentro de mim que é esquecido. quero cada vez mais esquecer deus para poder amá-la. gosto do mistério. esse anseio pelo novo. pela surpresa. pelo inesperado. encontrar esse deus-vazio nas multidões de pensamentos que habitam em mim é realmente uma surpresa. quero que a teologia se encantasse tanto pelos mistérios quanto a pequena angelica nas bibliotecas da escola anos atrás. penso que o mistério trará beleza e vida para esse vale de ossos secos dos livros teológicos-acadêmicos-sem-poesia. celebro o mistério da vida e deus simplesmente vivendo o mistério
corpo de mulher. corpo que incomoda. corpo intruso. não, você não pertence à academia. não, você não pertence aos espaços religiosos. não, você não deve fazer teologia. corpo de mulher incomoda. e muito. confinado aos lares. sem voz. sem vez. corpo matável. corpo violável. corpo que incomoda. mulher, você incomoda. incomoda esses espaços masculinos de poder. incomoda sua teologia. sua liturgia. seu simples existir. sim. nosso corpo incomoda e continuaremos a incomodar. incomodaremos essa linguagem masculina, esse pensar patriarcal, esses gestos de violência. incomodaremos sim. colocamos nosso corpo no mundo e nele ficaremos. como dizem por ai… os incomodados que se mudem.
Desculpe, mas eu só posso acreditar em um Deus Queer. Sim, queer. Um Deus que é desajeitado, inacabado, incompreendido. Não, esse Deus todo teorizado, teologizado, esquematizado e dissecado não é o Deus que acredito. Afinal, esse Deus é sem Graça, literalmente. Como diria um amigo bigodudo, só acredito em um Deus que dança, que mexe seu corpo ao som da batucada. Sabe, esse Deus que acredito não tinha beleza nem formosura perante essa religiosidade seca, não tinha boa aparência, era julgado por ela e não era desejado, era muito queer, muito desajeitado entre os seres humanos, era uma mulher-trans de dores; e, como um de quem todos e todas escondiam o rosto, era desprezado, e não fizeram dele caso algum [ Is 53:2,3]. Deus meu, Deus dos-as desajeitados-as , dos-as cansados-as, tende piedade de nós. Tu sabes o que é ser queer, dai-nos força para, assim como Tu, não perder a compaixão, doçura e ânimo para lutar por nossos direitos. Nos ensine a dançar com nossos corpos estranhos para louvor da tua criação. Somos feitos-as a sua imagem e semelhança > desajeitados-as, incompreendidos-as e inacabados-as.
Kyrie Eleison
planto sementes
nos campos de nuvens
para colher
amores chuvosos
Mariana. Alguém lembra? Alguém consegue ouvir seus gritos? Mariana. Mulher. Natureza. Abusada. Os gritos são silenciados. Mariana. Estuprada, invadida, violada. Foi devastada, chorou. Lágrimas misturadas com o sangue das vidas decepadas. Mariana sofreu o extrativismo do seu corpo, da sua fauna e flora. Seu violador saiu impune. Processo anulado. Homens que vetam os direitos da mulher, da Natureza, de Mariana. Mariana. Sufocada pela violência, sua boca foi tapada com os minérios, o Rio Doce que fluía de suas pernas se tornou lamacento, sem vida, sem tesão. Mariana. Você se lembra? Mariana. Mariana. Mariana. Mariana. A vida transformada em lama
tem pessoas
que enchem nosso coração
de alegrias e doçura
que costuram asas de borboleta em nós
que fazem nossos pés dançar
ao som das brasilidades
que estampam um sorriso
de girassol no nosso rosto
cultivar. tenho cultivado essa palavra em mim durante esses dias. cultivando as plantinhas na casa de meus amigos tenho cultivado em mim a importância do cultivo. a rega diária, tarefa importante da cultivação, é tão importante para as plantinhas quanto para nós. cultivar em nós a beleza em meio ao caos é desafio – e requer muita rega. regar nosso interior com bonitezas, poesia e delicadeza. cultivar nossa esperança – que mesmo frágil em tempos como os nossos – cresce com a rega. rega de boas amizades, jantares, chás. rega de silêncios, boa música e natureza. a cultivação do cultivo interno. se agachar perante a terra do nosso interior. segurar com delicadeza as pequenas folhas e flores que crescem em nós. contemplar. e regar. com o cuidado e amorosidade de quem entende que manter o cultivo da esperança é algo importante.
e minha mãe insiste em dizer: “minha filha, reclame para Deus”. tento explicar que não adianta nada. e não adianta nada. pois minha mãe insiste em dizer: “minha filha, reclame para Deus”.
de tanto escrever não escrevo quanto mais escrevo menos escrevo quero escrever não consigo escrever porque escrevo escrevo o que preciso e não escrevo o que quero só queria escrever mas não posso porque preciso escrever escrevendo não escrevo é nada
santo santo santo
enchei-nos de flores
amores e sabores!
duas joaninhas conversaram comigo ontem. me disseram bonitezas. e voaram nas flores da primavera
vou fugir
no barquinho das palavras
com as paisagens
de um março estrelado
costurando em mim
o aroma das amoras frescas
no céu brincou com meus sonhos
e espalhou suas penas de pavão
Krishna Krishna
purifique meu coração
com o som de sua doce flauta
palavra perfeita
som do amor
o que tudo une, o que tudo é
Krishna Krishna
me ensine a ser como és
o texto sagrado é um labirinto. me perco nos diversos caminhos interpretativos. nas multiplicidades temporais e espaciais. as letras e frases me confundem. o texto sagrado é um labirinto sem saída. o que fazer então? brincar!
minha cabeça não para de pensar. entra em cada pensamento que não consegue nem achar uma janelinha pra respirar. hoje estava assim. pirando. endoidecendo. nas multidões dos meus pensamentos dentro de mim. sabe o que fiz? vc sabe a receita para não enlouquecer? meio quilo de farinha, uma xícara de açúcar, 1 colher de sopa de fermento em pó, meio copo de óleo, meio copo de pinga, dois ovos mexidos com garfos. misture tudo. sove até a massa não grudar nas mãos. aí você molda em formato de rosquinha. coloque pra assar até ficar gostosinho. depois molhe na pinga e passe no açúcar! tcharam. nada como sovar uma boa massa e comer um docinho para não pirar. e oh, fica uma diliça!
[paráfrase de Tiago 2:1-9]
Minhas irmãs e meus irmãos, como crentes em nosso glorioso Senhor Jesus Cristo, não façam diferença entre as pessoas, tratando-as com favoritismo.
Suponham que na reunião de vocês entrem um homem e uma mulher heterossexuais e também entre um homem homossexual, mulher transexual, um homem bissexual, uma lésbica, e um homem trans-gênero.
Se vocês derem atenção especial ao homem e a mulher heterossexual e disserem: “Aqui está um lugar apropriado para vocês”, mas disserem ao homossexual, mulher-trans, a lésbica, ao bissexual e ao trans-gênero: “Vocês, fiquem de pé ali”, ou: “Sentem-se no chão, junto ao estrado onde ponho os meus pés”,
não estarão fazendo discriminação, fazendo julgamentos com critérios errados?
Ouçam, meus amados irmãos e amadas irmãs: não escolheu Deus os que são minorias aos olhos do mundo para serem abastados em fé e herdarem o Reino que ele prometeu aos que o amam?
Mas vocês têm desprezado os homossexuais, @s trans-gêner@s, @s transexuais, as lésbicas, @s bissexuais.
Se vocês de fato obedecerem à lei real encontrada na Escritura que diz: “Ame o seu próximo como a si mesmo”, estarão agindo corretamente.
Mas se tratarem os outros com favoritismo, estarão cometendo pecado e serão condenados pela Lei como transgressores.
eu quero a teologia das miudezas. da roupa estendida no varal. da louça por lavar. da cama desarrumada. do escovar os dentes. uma teologia do agora. do tempo presente. respirar. sentir o corpo. fechar os olhos. abrir. ver as cores mais fortes. ver o pó contra luz como se fossem inúmeras estrelas no espaço. somos pó. pó de estrela. voltaremos ao pó. miudezas. somos essas miudezas que vivem miudezas. e encontramos, nas miudezas, a beleza de se viver.
Lembra de quando eu ia na sua casa estudar, mas adorava tirar aquele cochilo pós-almoço enquanto você cuidava da sua fazendinha virtual? E quando tomávamos o chá da tarde, até que um dia escondemos o chá da sua irmã e ela derrubou tudo na cozinha? Rimos muito! Lembra da sua formatura do colegial? Eu estava lá, e agora você já se formou na faculdade, trabalha com o que gosta e está casada! Que maravilha tudo isso! Lembra quando eu trabalhei com vocês? Cada perrengue que a gente passou juntos, mas cada momento bom, melhor fase! Graças a vocês que conclui minha faculdade e hoje estou no mestrado. E daquela história que falei que o guarda-chuva ia quebrar e logo em seguida ele quebrou, desde aquele dia fui apelidada de mãe cilegna. Nossa grande preocupação era quem ganhava no guitar hero enquanto comíamos bolo de cenoura feito pela minha mãe. Fomos em tantos shows do Vanguart que até perdi a conta, mas cada um foi único e creio que também foi uma desculpa para nos reunirmos toda a gangue. Te conheci pelo internet, você comentou numa foto minha “ketchup e mostarda”. Depois de anos nos conhecemos pessoalmente, tomamos um bom café, rimos, fizemos compras. Esse ano você veio de novo e matamos um pouquinho essa saudade que não passa nunca. Se eu começar a falar de você nem dá conta, afinal, te conheço a 23 anos e são tantas histórias! Mas é bom saber que você está realizando seus sonhos, enche meu coração de alegria e esperança. Te conheci no templo, a pessoa que me recebeu pela primeira vez, uma quinta-feira em 2013. Você sempre atrasada e eu pontual, mas graças a Deus agora você tem celular! Lembra também quando íamos ao Pão de Açúcar em frente a faculdade para fugir de aulas chatas e comprar besteiras para comer? Ou quando voltávamos da faculdade, e você, por ser querido, me deixava em casa, mesmo não sendo caminho da sua… cada papo bom, desabafos, lágrimas, risadas! Hoje relembrei o quanto é bom saber que tenho vocês e transbordei de amor. Transbordei. Transbordei porque o amor é assim, transbordante.
ouço essa música
ouço você
ouço seu silêncio
ouço sua distância
ouço o adeus
– aquele que não foi dito
Ó Deus, que nós, pessoas brancas, reconheçamos o nosso privilégio.
Que nós possamos enxergar e compreender que o racismo existe e que homens e mulheres negras sofrem e morrem diariamente por conta disso.
Sim, Deus, confessamos nosso pecado: a injustiça que nós, os brancos, fizemos por séculos contra o povo negro, e ainda acontece.
Colocamos nosso rosto contra o pó, colocamos vestes de luto, batemos em nosso peito em lágrimas pedindo que todo esse movimento de supremacia branca, todo principado e potestade, toda ação diabólica – que separa e não une – seja destruído.
Kyrie Eleison!
Em nome do Amor te rogamos.
Amém.
trindade querida. que eu possa mergulhar na sua risada mansa. quero me esconder em teus cabelos encaracolados. me embriagar com o perfume do teu abraço. santíssima trindade, obrigada pelos girassóis de cada manhã. eu te louvo e te agradeço. amém.
com as mãos amigas
vou tateando o escuro
sentindo outras perspectivas
vou me tecendo
Graça Divina,
lembrai-me diariamente que a vida é como a fumaça que sobe da xícara de chá, docemente efêmera
sim, breve aroma do chá
que invade meus pulmões
curto êxtase divino
goles de purificação
palavras silenciosas em forma de líquido
que descem para o interior do meu coração
te agradeço pelo teu silêncio amoroso
Amém
Compro livros de poemas para ler pro meu cachorro. Já ouviu de tudo nessa vida… Os últimos que ele ouviu foram os da Szymborska, Neruda, Drummond (aquele livro de poemas eróticos dele é ótimo, não?), Calixto, Adélia Prado. Acho que ele gosta de poesia alemã, quando li Brecht ficou com os olhinhos caninos fixados em mim – deve ser pela situação política recorrente, estava lendo aquele lá que fala sobre o analfabeto político. Hoje quando li o verso do Calixto que diz: “meu nojo/ não cabe na urna”, ele até deu um latido (acho que ele é meio anarquista também). Enfim… Gosto de ler poemas pro meu cachorro. Melhor do que ler para as paredes sem vida – mas se fosse preciso, por que não? Se ninguém me ouve, eu escrevo. Se ninguém me lê… eu leio poemas pro meu cachorro.
o texto é um tecido a ser costurado
fios
cores
bordados
tenho costurado meus textos com a linha B
Barthes, Butler, Beauvoir
penso por imagens. quando escrevo fotografo meu pensamento. imagens cerebrais transformadas em texto. texturas em palavras. cores em parágrafos. meu texto é a imagem do habita em mim. fotografias pensantes.
das sementes de girassol nasceu a trindade. shekinah, ruah e sofia. geminaram em nosso coração e floresceram como o sol floresce no céu. as três filhas da esperança vieram e fizeram tenda conosco. criaram os campos de girassóis para que pudéssemos sorrir e florir como elas. sopraram seu polén nos pulmões das suas filhas e eles se encheram de doçura celestial. elas vieram dos girassóis. giram ao som dos raios solares. brincam e dançam nas luzes e sombras do sol. venha, santíssima trindade. ensina-nos a dançar com o sol.
a teologia feminista é grito. a teologia feminista é escândalo. a teologia feminista é esperança.a teologia feminista é resistência. a teologia feminista é acolhida. a teologia feminista é reconciliação. a teologia feminista é mística. a teologia feminista é encontro com deus, consigo mesma e com você.
por favor, uma dose de poesia simples
quer dizer duas, cinco, dez
ah, me traga a garrafa aqui
sigo o conselho de Baudelaire
quero me embriagar com o tesão das letras
e talvez, depois
dormir no intervalo do silêncio entre as palavras
brincando no quintal da minha vó descobri o que era me aventurar nas pequenas belezas do mundo. quando eu e minhas irmãs corríamos atras das borboletas brancas. ou quando brincávamos de atacar limão o mais alto possível com a antiga raquete preta que ficava pendurada em cima da máquina de lavar roupas. e quando achávamos uma minhoca? festa pura. procurávamos sementes explosivas para jogar umas nas outras, no cabelo, é claro. pular a janela do quarto para o quintal era a coisa mais radical do mundo. as três na mesma cama, sono profundo. e ao acordar.. o café com leite e pão com mortadela estavam nos esperando
Pentecoste das mulheres: Atos 2:1-18
Chegando o dia de Pentecoste, estavam todas reunidas em um só lugar. E de repente um som, como de um vento vindo das saias das mães de santo quando dançam, encheu toda a casa onde estavam assentadas. E viram pequenas flores de lótus flamejantes flutuando e repousando sobre a cabeça de cada uma delas. E todas ficaram cheias da Ruah Divina e começaram a se expressar em diversas linguagens. Umas dançavam, outras cantavam lindos cânticos, ainda algumas começaram a desenhar e pintar suas visões celestiais, e também haviam aquelas que escreviam lindos poemas, conforme a Ruah as capacitava. Muitos homens estavam próximos a casa onde elas estavam, ouvindo essa grande festa, ajuntaram-se e ficaram perplexos por todos compreendiam a mensagem divina nas diversas linguagens que estavam sendo transmitidas. Atônitos e maravilhados, eles perguntavam: “Acaso não são mulheres todas essas que estão falando, cantando e dançando? Como nós, homens, estamos recebendo as maravilhas da Deus por elas?”. Perguntavam ainda: “Que significa isto? “. Alguns, todavia, zombavam delas e diziam: “Eles beberam vinho demais, são feiticeiras, bruxas. É impossível que venha alguma coisa boa das mulheres”. Então, todas as mulheres se levantavam juntas e disseram, guiadas pela Ruah: “Homens desse mundo, deixem-me explicar-lhes isto! Ouçam com atenção: Nós não estamos bêbadas, como vocês supõem. Pelo contrário, isto é o que foi predito: “É tempo de a Ruah Divina dançar sobre todos os corpos, não mais sendo propriedade da religião judaico-cristã e nem apenas dos homens. Mas é tempo das minhas filhas profetizarem, das minhas jovens terem visões e das minhas queridas anciãs terem sonhos e proferirem palavras da Sofia. Derramarei sobre elas meu Espírito e elas profetizarão.” E foi assim que o Sopro da Vida inspirou as mulheres a se tornarem artistas, poetas, escritoras, dançarinas, cantoras, teólogas, pastoras e deu a força para elas se tornarem o que quiserem ser!
Oração à Nossa Senhora de Guadalupe, 2017
Mãe Divina,
Te buscamos e te clamamos
Dai esperanças as mulheres que sofrem e são exploradas por uma estrutura patriarcal, excludente e capitalista
Fortalece os ventres violados
Dai o renovo do prazer aquelas que foram abusadas
Abrace fortemente aquelas que fizeram aborto
pois Tu sabes o que é ser julgada por uma gravidez indesejada
Tu sabes o que é ser mulher e pobre, te pedimos auxílio para a luta por comida, moradia, saneamento básico para nós e nossos filhos e filhas
Nos ajude a lutar pelos nossos direitos do prazer, da vida, do gozo, do nosso próprio corpo, da nossa liberdade, da nossa sexualidade e da nossa voz
Tire suas filhas dos armários heteronormativos, que elas possam vivenciar suas próprias identidades sem a culpa imposta pela religião
Acolha as mulheres trans, que elas se sintam bem-vindas em teu amoroso lar
Tu és o nosso aconchego, acolhe-nos no teu manto,
e que nada nos aflija nem perturbe nosso coração.
Amém
Nossa Senhora de Guadalupe rogai por nós !
Um inocente foi morto, 2017
Um inocente foi morto. Raíssa estava sendo espancada quando Luis Carlos Ruas a defendeu de seus agressores – Luis, espancado até a morte. Maria Eduarda estava na escola. 13 anos. Baleada dentro do pátio da escola. Morta. Dandara dos Santos, uma santa. Humilhada, torturada, morta. Marinalva Manoel. Líder indígena. 27 anos e 35 facadas. Mortos. Desprezados e rejeitados pela sociedade, homens e mulheres de tristeza e familiarizados com o sofrimento. Pessoas de quem os outros escondem a face, desprezados, não os tem em estima. Pessoas das quais a vida é o próprio protesto. Perguntam “Senhor, Senhor, por que me abandonaste? ”. Jesus. Morto. Crucificado. A religião abraçou o Estado e eles juntos massacraram o corpo de um inocente. Diferente de hoje? A crucificação não aconteceu no passado, ela acontece nas nossas cidades. Acontece quando o presidente dos Estados Unidos ataca uma superbomba no Afeganistão. Quando os direitos trabalhistas são rasgados. Quando as terras dos indígenas são tomadas pelo capital. Quando os movimentos sociais são criminalizados. Quando os jovens negros são exterminados nas periferias. Quando a violência contra a mulher negra aumenta desenfreadamente. A crucificação acontece também quando um desastre ecológico como Belo Monte acontece e nada é feito. Quando o desmatamento ocorre, todos veem e todos se calam. O silêncio contra o opressor é o grito para crucificar o inocente. O Filho de Deus não foi crucificado apenas uma vez. Ele é crucificado todos os dias. No pranto das crianças que perderam seus pais na guerra. Nos gritos de uma mãe chorando pelas suas crianças mortas em um tiroteio. Nas lágrimas dolorosas de um marido que perdeu toda sua família em uma explosão. Não, Jesus não morreu uma vez. Ele morre todos os dias. E nós, como Pedro, o negamos. Negamos todos os dias também. Quando nosso coração se torna insensível as atrocidades que ocorrem no mundo, no nosso país, no nosso estado, na nossa cidade, no nosso bairro, na nossa rua, em nossas casas. Quando nós decidimos fingir que tudo está bem, que nada de mal acontece. Quando não agimos em prol do Jesus crucificado em diversos corpos. Mulheres, homens, negros, grávidas, transvestis, transexuais, pobres, periféricos, sírios, haitianos, brancos, gays, lésbicas, jovens, velhos, crianças. “Por que me abandonaste? ” Nós abandonamos. Nós fechamos nossos olhos e nos apartamos do crucificado de hoje. Nós crucificamos. “Por que me abandonaste? ”
A entrada triunfal, 2017
Jesus foi recebido na cidade com um bom samba de raiz! povo santo fazendo uma batucada santa e cantando >> bendito seja aquele que liberta seu povo da opressão religiosa e estatal << em um pequeno burro ele estava montado, povo alegre começou a benzer Jesus com os ramos de palmeiras e desejar coisa boa pra ele. igual nossa avó faz com a gente lá no sertão. ô menino-deus ficou bem feliz com a recepção, que não foi nada triunfal não, foi simples, como um deus é…simples. mas ai então quando ele entrou na cidade os camaradas estavam vendendo a fé, comercializando a espiritualidade, não muito diferente do que o pessoal faz não. ai que Jesus se irritou pra caramba e expulsou todos que estavam lá fazendo isso. como era de se esperar, os líderes religiosos aparaceram. imagino que ficaram preocupados por não lucrarem naquele dia, fé é dinheiro na mente de pessoas assim, eles devem ter pensado >> maldito Jesus que expulsou meus funcionários da fé, até parece que aqui é casa de oração.. aqui é casa de extorsão << as crianças ainda estavam embaladas pelo bom samba que todos estavam cantando. dançavam e cantavam >> bendito seja aquele que liberta seu povo da opressão religiosa e estatal << e os ‘sacerdotes’ vieram perguntar pra Jesus >> ué, você não tá vendo o que essas criancinhas inúteis estão cantando? << e Jesus, menino-deus que era, respondeu >> eu acho que vocês não leem a própria torah… nunca leram, por exemplo, que é da boca das crianças e dos recém-nascidos que vem a força, louvor e verdade? dá uma procuradinha em salmos 8, talvez possa encontrar algo por lá << e depois disso aposto que foi dançar com as crianças e depois se despediu e foi passar a noite em uma cidade próxima porque ficou sabendo que teria feijoada!
silêncio marítimo, 2017
as ondas fortes batiam contra as pedras – já fora assim -, a água que resiste a rigidez das pedras. era uma coisa bela de se ver. a força das águas. é, as águas são poderosas, mudam estruturas rochosas. mas depois de quanto tempo? sabe lá deus. será que as ondas não se cansam desse movimento constante? talvez. mas as águas tem escolha?
o protesto das águas. greve das ondas. silêncio marítimo.
costuraram suas mãos com as desesperanças do mundo, as amarraram com os gritos não ouvidos e deram nós com as lágrimas ignoradas. as palavras até existiam, mas não havia mais a possibilidade de escreve-las. as mãos costuradas estavam. assim como o mar em seu protesto. silêncio das mãos.
Paráfrase de Hebreus 4:12
pois, então, a palavra-poesia é pulsante, respira, pira, é viva. invade, penetra, entra na alma, no espírito, nos ossos, na carne, no corpo, no pensar. faz a gente conhecer a gente e ser mais gente. faz o coração ser mais coração e devolve a vida para a vida.
a Deusa da cor do Universo
apareceu para mim em
um sonho colorido
numa nuvem de incenso
entre as tulasis
e me deu revelação
das contradições de ser mulher
Desnudar-se
Alma que volta pra sim
Encarnar-se
Almar-se
Amar a si.
e foi numa noite como essa
que me apresentaram Deus
disseram-me
olha ali os vagalumes!
Ensina-nos a resistir
à toda forma de opressão e injustiça
Ensina-nos a derrotar
a violência, a desigualdade, o racismo, o machismo e a homofobia
Ensina-nos a sermos
igreja comprometida com a justiça e o amor
Ensina-nos a gritar
contra os abusos do Estado e do capitalismo
Ensina-nos a agir
conforme a vida do Nazareno
Amém
Paráfrase de Romanos 8:38-39
Pois eu tenho a certeza de que nada pode nos separar do amor de Deus: nem a morte, nem a vida; nem os dogmas, nem os “ortodoxos” e fundamentalistas, nem as igrejas, nem o Estado, nem os falsos profetas e líderes religiosos corruptos, nem a guerra, nem o presente, nem o futuro, nem o passado, nem a mídia,nem o patriarcalismo, nem os preconceitos, nem o racismo, nem a intolerância religiosa, nem a homofobia. NADA!. Em todo o Universo não há nada que possa nos separar do amor de Deus, que é nosso por meio do Nazareno, nosso mestre.
Ela buscava respostas nas xícaras de chá
E se afogou.
Deus se faz Deus no encontro dos silêncios.
Contemplo a Deus
nas Gymnopédies de Satie
nos sermões de Eckhart
na poesia de Hilst
e numa deliciosa xícara de chá…
a brincadeira, 2016
A teologia é um brincar
Brincadeira que por vezes levamos a sério demais
Como se as doutrinas, dogmas e a ortodoxia fosse coisa importante
Sempre que levamos alguma brincadeira a sério ela fica sem Graça
Brinquemos todos de ser teólogos
Pois definir o Indefinido é mera brincadeira de adivinhação
Sejamos todos como a Eterna Criança,
o “divino que sorri e brinca”.
Não sabemos quem é a divindade
Respeitemos, então, as diversas brincadeiras de adivinhação do mundo
Deus é um Absurdo. É a brincadeira pura e o riso infindável.
E diante do Absurdo, eu rio.
Medito em quem tu és
Não encontro respostas, apenas perguntas
Qual será tua sinfonia,
Teu cheiro, tua textura?
Teu meditar, teu descansar?
E nele quero fazer morada
Te encontro na vida
Quem não consegue ver tua face na vida
Nunca te conhecerá
Pois tu és a própria vida
Complexa e sem sentido
Tu não fazes sentido algum!
E é esse teu mistério.
Tua textura, tua forma
Encontro aqui
Respirando, sentindo e experimentando
O silêncio da tua natureza
para todos os desamores, 2016
A gente se viu uma vez
Duas.
Quatro.
A gente se via todos os dias.
Só aos finais de semana.
Uma vez por mês.
A cada ano.
Cada encontro.
Um olhar. Algumas palavras.
Abraço.
Um aperto de mão.
Apenas um aceno com a cabeça.
Um “oi” fraco.
Conversa de horas.
Filosofias, cervejas e risadas.
Encontros de estudo.
Cursos. Lágrimas.
Despedida.
Um suspiro. Um respiro.
Talvez a profundidade não tenha a ver com o encontro, mas sim com o salto para dentro de si.
A gente nunca se encontrou.
Talvez nunca haja a gente.
Nenhum olhar. Abraço. Riso.
Nenhum nós.
Talvez a gente nunca se encontrará.
Nem agora, nem depois.
Mas tudo bem.
Salto para dentro de mim para te encontrar.
Cansada das palavras
Quero ir para terra do silêncio
Terra silenciosa e vazia
O silêncio-vazio absoluto onde habita a plenitude
Preciso ir além das palavras
Além da linguagem falada e pensada
Quero alcançar a linguagem do sentir
Sentir o doce-amargo silêncio
Quero me despedir do pensar
controle, 2016
Eles pensam que nossos corpos não são nossos
Que nossas escolhas não são nossas
Eles querem nos controlar
Eles querem nos impor sua moral pérfida
Com a sua podridão espiritual blasfemam contra aquele dizem professar
Hipócritas!
São suas palavras fétidas que matam
São suas atitudes que matam
É sua falsa religiosidade que mata
Vocês se enganam se pensam que com suas manipulações conseguirão nos controlar
Nós somos muitas
Cada corpo uma festa
Cada corpo uma escolha
Cada corpo uma opinião
Muitas opiniões
Mas elas só cabem a nós, mulheres
Não se intrometam!
Silêncio!
Somos a Adúltera
Somos a Virgem Maria
Somos Eva
Somos Maria Madalena
Somos Débora
Somos Jezebel
Somos Raabe
Lutamos juntas pela liberdade de escolha e direito dos nossos corpos!
Somos muitas
Em uma só.
Lido com as palavras melhor do que lido com a vida. Talvez seja porque as palavras são manipuláveis,são possíveis de serem controladas, já a vida é indomável e imprevisível. Planejo as palavras. ‘Desplanejo’ a vida.
querem me excomungar, 2016
Querem me excomungar. Querem me tirar de suas assembleias religi
osas, das quais nem Deus mais frequenta. Querem me queimar em suas fogueiras sociais. Querem me excomungar.
Mas mal sabem eles que eu mesma me excomunguei. Me excomunguei dessa religião apática e intolerante. Dessa religião que dita quem é ou não é de Deus. Me excomunguei dessa religiosidade que tem medo da liberdade e da vida.
Temos que nos descatequizar dessa religiosidade sórdida, sádica, excludente e frívola. Descatequizar das palavras que nos aprisionam, violentam e matam.
Me descatequizo para me auto-excomungar!
ao deus azul, 2016
No som da sua flauta minha mente se purifica
E meu corpo vibra com cada nota musical
Dançando na roda dos devotos ao som dos tambores
Experimento o Néctar Divino
No seu ser a cor do Universo se faz
Em seus olhos contemplo os diversos sóis
Nas palmas de suas mãos estão as galáxias
Quando seu coração pulsa, cada ser exalta de alegria
E o som da sua voz dissolve todos os obstáculos
Servindo no altar e oferecendo o fogo no Arati
Sinto meu coração se aquecendo
Tua luz vindo e dissipando toda a escuridão que habita em mim
Queimando todas as impurezas do ego
Para que assim continue a cantar os Santos Nomes sem cessar
Quero no silêncio encontrar Sua voz
Na brisa suave, Seu toque
Nas árvores, Sua sabedoria
No sol e na lua, Seu brilho
Nas pessoas, Sua face
Entre montanhas e mares, 2013
quando a ilusão se torna parte da realidade
como saber?
como perceber?
a vontade da ilusão é maior que a vontade de viver a própria realidadee quando não se sabe nem em qual ilusão acreditar ou qual realidade viver?
“Utterly meaningless! Everything is meaningless.”
Explosão de cores, 2014